Por que Angular é Considerado Mais Complexo que React?

Sempre que desenvolvedores discutem a complexidade entre Angular e React, noto que a conversa tende a pender para uma comparação superficial: Angular é difícil, React é fácil. Mas, depois de passar por essa experiência eu me pergunto, será que essa simplificação realmente faz jus à realidade? Para mim, a resposta é bem mais complexa.

Eu já venho de um mundo onde backend orientado a objetos (OOP) e ferramentas como AJAX e jQuery são comuns. Quando comecei a trabalhar com Angular, me surpreendi ao perceber que ele parecia... familiar. Isso pode soar contraintuitivo para quem está habituado ao discurso dominante, que coloca React como a escolha óbvia para quem busca simplicidade. Mas, ao contrário da crença popular, Angular me pareceu intuitivo desde o início.

Acredito que minha experiência com arquitetura de backend moldou minha percepção. Quando entrei em contato com o Angular, seus conceitos como injeção de dependência, serviços e componentes não me pareceram novos. Ao contrário, me senti em casa. É como reencontrar uma cidade antiga, que mudou de paisagem, mas cujas ruas ainda parecem as mesmas. Estruturas, padrões e até mesmo a organização de código me lembraram frameworks como o Spring, que usei no desenvolvimento backend. No Angular, os princípios são similares: você sabe onde procurar e como resolver as coisas.

O contraste com React não passou despercebido. Enquanto muitas pessoas enaltecem React pela sua simplicidade, eu me pergunto: será que ele é apenas mais simples como primeira linguagem? Quando alguém com pouca experiência encontra React, pode achar reconfortante sua abordagem mais permissiva. Afinal, React é apenas a camada de visualização, enquanto Angular é um framework completo. E essa simplicidade inicial parece encantadora. Contudo, ao longo do tempo, percebo que essa “simplicidade” pode ser uma armadilha, pois limita a escalabilidade e leva ao acúmulo de dívidas técnicas.

Lembro-me de quando comecei a me aprofundar mais no Angular, e sua complexidade aparente foi se dissipando, como nuvens que se dispersam ao vento.

O que inicialmente parecia ser um caminho árduo, revelou-se uma jornada de aprendizado gratificante. Desenvolver com Angular se tornou natural, até mesmo prazeroso. A curva de aprendizado se aplainou, e minha produtividade disparou.

Um amigo, desenvolvedor com mais de 5 anos de experiência em linguagens como Java e Python, começou a usar Angular e se identificou imediatamente. Para ele, assim como para mim, Angular fez sentido logo de cara. Ele havia experimentado React, mas não encontrou a mesma conexão.
Esse tipo de resposta não é raro entre os desenvolvedores que vêm de um background de OOP. Para nós, Angular simplesmente faz sentido. Não é um conjunto de regras arbitrárias a serem decoradas, mas um sistema coerente e bem arquitetado, que espelha os mesmos princípios com os quais estamos acostumados no backend.

Essa sensação de familiaridade, no entanto, não é universal. Entendo que muitos desenvolvedores, especialmente aqueles que começaram sua jornada no frontend com React, podem achar Angular mais difícil.
Isso ocorre porque a maioria desses desenvolvedores não tem a base em OOP ou conceitos como injeção de dependência, singletons, ou até mesmo a utilização de serviços.

Para eles, Angular parece repleto de camadas de complexidade. E aqui reside a principal diferença: Angular pressupõe que você conhece certos fundamentos de arquitetura de software.

Ao final, a escolha entre Angular e React se resume a mais do que apenas complexidade técnica. Trata-se de uma questão de alinhamento com o que você já sabe e o que você pretende construir. 

Angular, com toda a sua robustez, pode parecer intimidador no começo, mas, uma vez que se compreende sua estrutura, ele se torna uma ferramenta incrivelmente poderosa. React, por outro lado, pode parecer mais simples no início, mas cobra um preço à medida que sua aplicação cresce em escala.

Eu diria que Angular é como aprender a pilotar um avião. No começo, é muita coisa para assimilar. Há controles, regulagens, e você precisa entender a aerodinâmica por trás de tudo aquilo. Mas, quando você aprende a voar, as possibilidades são infinitas. Você consegue cobrir distâncias maiores, navegar com mais precisão e construir sistemas robustos que resistem ao tempo.

React, por outro lado, é mais como dirigir um carro esportivo. No início, a sensação é maravilhosa. É rápido, fácil de manusear e responde bem a comandos simples.
Mas quando você precisa de mais poder, ou quando o terreno se torna acidentado, você começa a perceber as limitações. Para projetos menores, pode ser a escolha perfeita. Mas quando você entra no universo de aplicações corporativas grandes e complexas, como aquelas com as quais trabalho, Angular é, sem dúvida, a escolha mais adequada.

Essa comparação não busca desmerecer React, mas colocar cada ferramenta em seu devido contexto. Angular impõe boas práticas, empurra o desenvolvedor na direção certa e, por isso, é uma escolha sólida para quem precisa de escalabilidade e sustentabilidade a longo prazo. React, por sua vez, é flexível e ótimo para quem precisa de rapidez e simplicidade inicial, mas exige muito mais disciplina para manter a qualidade do código conforme o projeto cresce.

Concluo com uma reflexão: é a familiaridade que define o caminho que escolhemos.

Angular pode parecer complexo para quem não está acostumado com sua arquitetura robusta, mas, para quem já viveu no mundo de OOP, ele é como voltar para casa. Como qualquer boa ferramenta, sua eficácia depende de como é usada. Se você já conhece o caminho, Angular é a estrada que te leva mais longe.

Ao final do dia, a melhor escolha é aquela que permite que você cresça como desenvolvedor, e para mim, Angular proporcionou esse crescimento.

E você? Qual caminho escolhe para a sua jornada?

Este artigo é uma reflexão baseada em discussões extraídas de uma postagem no Reddit. Para mais detalhes, confira o debate completo em: Por que as pessoas dizem que Angular é mais complexo que React?.